24 abril 2006

acordar no mar

Fecho os olhos. Posso estar deitada na cama, desfeita de hoje de manhã, quente de hoje de manhã, apesar de não conseguir sentir o meu calor, devo-o exsudar, pelo menos quando dava as mãos a alguém e não era Inverno sentia muito calor e comichão nas palmas das mãos e então gotículas se formavam no centro da concha e a cócega aumentava, e inventava uma paisagem para apontar e dizia
Olha que bonito
pássaro
ou
prédio
Não gostava era de sentir aquele calor híbrido nas mãos. As minhas mãos quentes envergonhavam-me.

Agora já não sei se chego para aquecer a minha cama, mas presumo que sim, não acordo de noite, esvaída de sonhos ou a tremer.
Estava na parte em que me deito de costas e não interessa onde estou, interessa onde vou e quanto mais tempo lá conseguir ficar melhor.
Flutuo como uma mulher morta e sem memória,
à superfície de uma massa
de água
presa por um fio muito fino
à minha identidade.

Sabe bem abandonarmo-nos.
De quando em vez.
Como se pesássemos por breves instantes o mesmo que uma folha de papel, pronta para receber a história de uma vida através de uma fórmula infintamente aleatória.

Volto aqui
o fundo do mar como no búzio gigante que a minha avó trouxe de Moçambique
e que tinha uma capacidade admirável, o Oceano Índico lá dentro.

A verdade é que se sonho que sou leve assim
Percebo a vida